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Campo Grande, terça-feira, 28 de novembro de 2023.

2ª liga terrão estadual

Mesmo sendo página virada, campeonato promovido pela UEFAMS serviu para resgatar memória de Trindade Alves, na Aldeia Nova Buriti

Por Gilson Giordano em 13/12/2022 às 10:08

Sempre relem brado dentro das aldeias, Trindade Alves (e), ao lado de um dos netos que hoje guarda lindas histórias do avó (Foto: Divulgação)

Há exato um mês – 13 de novembro – foi encerrada a 2ª Liga Terrão Estadual, campeonato esse promovido com o maior sucesso, em todos os sentidos, pela União Esportiva de Futebol Amador (UEFAMS) e na ocasião, vencida de forma heroica e histórica pela equipe do AMB/MS BET Sports, por 2 x 1 de virada diante do bom time do Vó Maria.

Sim e ai? Dirão alguns que em seguida complementarão: “Esse campeonato faz parte do passado e hoje é página virada no emergente e já sólido futebol amador do Estado de MS, graças à UEFAMS”.

De fato é mesmo! Mas como é bom reler uma ótima história que conta muitas coisas sobre o Estado de MS e entre elas o inegável sucesso que a 2ª Liga Terrão Estadual,  proporcionou e mesmo sendo uma página virada, mas é muito bom rever alguns dos seus capítulos que  desta feita foram escritos por 226 times que representaram 22 municípios do Estado de MS e em cada capítulo uma história diferente que são contadas de todas as formas e felizes são aqueles que podem ainda, rever esses capítulos escritos à base de muito sacrifício, com superação de muitos times, muitos jogadores e que no fim de cada capítulo, foram exaustivamente saudados, ovacionados pelos   milhares de torcedores que  promoveram verdadeira invasões nos locais dos jogos.

Além do resgate da modalidade disputada em alto nível técnico e disciplinar em todo o Estado de MS, a União Esportiva de Futebol Amador (UEFAMS), conseguiu nessas duas edições estaduais resgatar pontos históricos até então esquecidos ou nunca revelados, a descoberta de novos valores com enorme potencial técnico e entre outras, resgatou de volta o elo familiar que é a base de sustentação para todas as iniciativas, em todos os segmentos.

Dois Irmãos do Buriti 

Desta vez, o exemplo desse laço familiar, básico para a sustentação e a união da família e por conseguinte o sucesso alcançado, vem da Aldeia Nova Buriti, que fica a 30 quilômetros de distância da área urbana do município de Dois Irmãos do Buriti, na microrregião de Aquidauana e distante da Capital de MS, a 120 quilômetros, seguindo pela BR-262 até o trevo do km 444 e depois entrando pela MS-162.

Netos do Cachorrão

As Aldeias Nova Buriti e Buriti, tem como cacique Rodrigues Alcântara e ambas são separadas por uma rua, tiveram um único time representante na fase regional da 2ª Liga Terrão Estadual, um time com nome bem estranho, mas que retrata o elo familiar, o carinho, o respeito dos seus integrantes que demonstraram o respeito, pelo ente querido, já falecido.

A aldeia Nova Buriti, Rufino é o cacique e o mesmo é um dos filhos do saudoso Trindade Cachorrão

Netos do Cachorrão! Esse foi o time que representou o futebol solidário das duas aldeias e como se observa, na verdade é um nome totalmente atípico para um time de futebol, mas que na verdade retrata a saudade deixada pela pessoa amada aos seus familiares e amigos.

Essa é mais ou menos a história do time de futebol, cujo nome Netos do Cachorrão, é uma homenagem póstuma ao mais vibrante desportista vivido naquela região: Trindade Alves.

Parte da história de vida do avó Trindade e do time Netos do Cachorrão foi retratada pelo neto Rafael Alves Gabriel, que através da entrevista demonstra ser um fã incondicional do avó que por sua vez foi na região, talvez o maior fã da prática de futebol, um admirador da arte de jogar futebol.

Claro que a pergunta que não quer calar: Porque cachorrão?

Conforme as explicações do neto,  Rafael Alves Gabriel, que prestou homenagem ao avó, ao colocar o nome do mesmo,  no filho, –  Trindade Alves – a  origem do apelido foi dado pelo bisavô, portanto o pai do “Cachorrão”, pelo fato de o mesmo ser sempre comunicativo, brincalhão e dificilmente estava em casa, onde praticamente   nunca parava e vivia  sempre à beira dos campos de futebol ou onde tivesse algumas pessoas apenas “brincando” com uma bola, já era motivo para o mesmo parar e se perder no tempo, admirando a magia da arte de jogar o bom futebol.

Além desse amor pelo futebol, outro detalhe que sempre chamou a atenção de todos nas aldeias, foi o bom humor mantido diariamente pelo “Cachorrão” que invariavelmente estava sorrido e o neto Rafael garante que o avô foi uma pessoa que nunca conheceu o significado de tristeza e também nunca ninguém o viu zangado e sim, sempre sorridente e com uma palavra amiga para todos.

Trindade ou “cachorrão” faleceu em 4 de agosto de 2.018, deixando uma impreenchível lacuna não apenas no seio familiar, ou nas aldeias, mas de forma geral em toda a região ou em todos os campos onde se praticavam o futebol.

Segundo o neto Rafael Alves, o avô “Cachorrão” era tão apaixonado pelo futebol que, em dias de jogos ou durante os mesmos, podia fazer elevadas temperaturas, ou chover, frio qualquer intempérie, que lá estava “Cachorrão” à beira do campo, sem se importar com o fato.

Durante as viagens que o time realizava para disputar jogos amadores como forma de lazer, o primeiro lugar no veículo que fosse transportar a delegação, claro que era reservado para Cachorrão, mesmo que um jogador ficasse fora da delegação, mas a presença do maior incentivador era indispensável.

Resgate

Para manter sempre viva a presença do avó Trindade Alves, um grupo formado por quatro netos decidiu montar o time de futebol e como  justa homenagem,  eles colocaram o apelido do avó, acrescentando  substantivo netos e com isso ficou: Netos do Cachorrão e envaidecidos pela justa homenagem que prestaram ao avó, admirador incondicional do futebol, Rafael iniciou a preparação para inscrever  o referido time na 2ª Liga Terrão Estadual, promovida e organizada com a marca  do sucesso e o selo de qualidade da UEFAMS.

Logo na fundação do time, o elenco era pequeno, com vistas à participação de tamanha envergadura tal como a Liga Estadual Terrão e para tanto, foi preciso, sem perder o DNA do avó Cachorrão, buscar mais quatro jogadores, que mesmo não sendo netos, mas pertencem às aldeias e são parentes “por outra parte familiar”.

De olho no futuro, diretoria do time Netos do Cachorrão já se movimenta para legalizar o mesmo e com isso usufruir dos benefícios da Lei (Foto: Divulgação)

Com esse enxerto estava então fundada a equipe do Netos do Cachorrão, cujo técnico é Josiel Alves, um dos legítimos netos do saudoso Cachorrão.

Com a definição do nome do time “Netos do Cachorrão”, os descendentes escolheram as cores azul e branco.

O azul pelo fato de representar os guerreiros Xumunó, guerreiros de batalha e o branco que representa o koixomuneti, no caso o Pajé que fortalece a todos através da mãe natureza, da mãe terra.

Como apenas os pajés usam essa cor, os jogadores pediram então permissão para que a mesma pudesse ser usada no uniforme do novo time que foi fundado para levar alegria aos moradores, não apenas das duas aldeias acima citadas, mas de forma geral, em toda a região.

Mesmo trazendo saudade,, essa logomarca impõe respeito ao time tal como diz o próprio nome (Foto: Divulgação)

Competições

Devidamente formado, tendo à frente um técnico e com o elenco definido, o time “Netos do Cachorrão” começou a buscar experiências com participações em torneios na redondeza.

O primeiro, foi no Campeonato da Terra Indígena Buriti, quando o novo time do Netos do Cachorrão chegou à fase da semifinal.

No campeonato Aldeia Córrego do Meio, a equipe ficou com o vice campeonato, sendo derrotada nos pênaltis e com isso, claro ficou sem o título e com o grito de “campeão” preso na garganta.

Mais uma boa participação e desta feita na Aldeia Lagoinha, onde o time de novo chegou entre os semifinalistas.

Liga Terrão 

Mesmo com esses poucos jogos, o time do “Netos do Cachorrão”, acreditou no potencial técnico de todos os jogadores do elenco e de forma ousada, se inscreveu para as disputas da 2ª Liga Terrão Estadual, na cidade sede de Dois Irmãos de Buriti, que teve além dos Netos do Cachorrão, as participações da   Chácara Ribeiro, Santa Cruz, Recanto, Sport DIB DP e Seonter.

Nessa fase, o novato time “Netos do Cachorrão” desbancou o Chácara Ribeiro, apontado como o mais forte e o “papa-título” da localidade.

Na fase classificatória, o time disputou quatro jogos, obtendo três vitórias e um empate e com os resultados, o mesmo avançou de fase e foi jogar em Aquidauana e enfrentou o então campeão, o time do Everton que mais experiente e com mais rodagem, acabou vencendo.

A derrota sofrida pelo time “Netos do Cachorrão” foi uma sonora goleada pelo placar de 6 x 0.

Para muitos, esse placar poderia ser motivo para nunca mais disputar nenhum tipo de campeonato, mas para os “guerreiros” Netos do Cachorrão, a derrota serviu para dar mais experiência ao time e o devido reconhecimento ao adversário.

O artilheiro do time foi um dos primos de Rafael e um dos netos legítimos, do saudoso Cachorrão, o jogador Jailson Alves, conhecido por “Carazinho”

No entanto, a derrota e a prematura desclassificação não desanimou ninguém no elenco que tal como guerreiros Xumunó, guerreiros de batalha, todos agora pensam e sonham mais alto.

O primeiro passo da diretoria do time “Netos do Cachorrão” é a criação da entidade jurídica e com isso, tentar conseguir os benefícios em todos os sentidos, principalmente o financeiro, para inscrições e o deslocamento do time que pensa em ganhar mais experiência, pois futebol o elenco mostrou que tem e de sobra para participar de campeonatos locais, em Aquidauana e até mesmo em outras cidades do Estado.

Por falar em qualidade técnica no elenco do time do Netos do Cachorrão que conta com a categoria do jogador Ivanil Alves Gabriel, neto “legítimo”  do Cachorrão, a quem Rafael chama carinhosamente de “vovô”, que já defendeu vários times no futebol brasileiro, inclusive no futebol português e hoje de volta às origens, mora na aldeia onde incentiva a prática  da modalidade, uma das heranças deixada pelo Cachorrão, que não apenas em vida, mas até após o seu falecimento, ainda é lembrado com saudade pelas boas ações feitas na região.

Neste sábado (10), foi encerrada a Copa Outubro Rosa JP Net de Futebol Feminino e com certeza, cada uma das 12 equipes participantes deixou um capítulo muito bem escrito dessa bela competição que no futuro, também será reaberto e nele, a rica parte da história do futebol amador da Capital de MS, sendo resgatada pela diretoria da União Esportiva de Futebol Amador (UEFAMS)

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