Tudo sobre a região do Anhanduizinho
Campo Grande, terça-feira, 28 de novembro de 2023.
Instalada na sede do Laboratório Central, a Biofábrica será inaugurada às 10h desta quinta-feira e em seguida, os mosquitos serão soltos (Foto: Divulgação)
Será no Parque Ayrton Senna, localizado no bairro Aero Rancho, o maior da Capital de MS onde residem mais de 80 mil pessoas, na região do Anhanduizinho, a primeira soltura do mosquito Wolbito. Em razão da pandemia do coronavírus, o lançamento da Biofábrica será fechado, aberto apenas para as autoridades.
Antes às 10h, está prevista a inauguração da Biofábrica instalada na sede do Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen/MS), localizado próximo ao Lago do Amor, na Vila Ipiranga, no bairro Piratininga, também na região do Anhanduizinho que terá como missão a redução de casos de Dengue, Zika e Chikungunya no Estado.
De acordo com as informações a biofábrica terá capacidade de produção semanal de um milhão e meio de mosquitos com bactéria Wolbachia.
Esta ação reforça as iniciativas da Secretaria de Estado de Saúde (SES) no combate à Dengue, Zika e Chikungunya e integra o calendário da Campanha “Aproveite a Quarentena e Limpe o seu Quintal”. Criada pelo World Mosquito Program (WMP), o método é financiado pelo Ministério da Saúde e conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), implementado em Campo Grande com apoio da SES e da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).
Para o Secretário de Estado de Saúde, a iniciativa representa um verdadeiro alívio para Mato Grosso do Sul, que sofre com a doença há muitos anos. “Apenas os investimentos na ciência e na pesquisa, como o Governo de MS tem feito, poderemos encontrar soluções para combater eventuais epidemias. Mas nós queremos expandir este projeto do Método Wolbachia para outras cidades sul-mato-grossenses como Corumbá, Dourados e Ponta Porã”.
Líder do Método Wolbachia no Brasil e pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira explica que o projeto é resultado da descoberta do WMP de que o mosquito Aedes aegypti, quando contém a bactéria Wolbachia, tem sua capacidade reduzida de transmitir as três doenças citadas. “Campo Grande é uma cidade de médio porte que tem problemas de Dengue e, então, foi escolhida no Centro-Oeste para mostrar que o projeto pode funcionar em diversos biomas do Brasil”.
O pesquisador ainda explica como o Método vai funcionar. “A iniciativa trabalha da seguinte maneira: é feito um trabalho de engajamento para explicar sobre o projeto e tirar todas as dúvidas, e assim ter o apoio da população. Depois entra a fase de liberação dos mosquitos por determinado período, aproximadamente de 16 semanas. Esses mosquitos vão se cruzando na natureza e, com o passar do tempo, haverá uma grande porcentagem do mosquito naquela localidade com a Wolbachia, com isso esperamos ter uma redução das doenças e podemos proteger a população”.
Além do Aero Rancho, as liberações serão realizadas nos bairros: Guanandi, Centenário e Lageado, todos localizados na região do Anhanduizinho. Nestes bairros, os Wolbito como são chamados os mosquitos, serão liberados semanalmente, durante 16 semanas, por agentes de saúde. As liberações ocorrerão no período da manhã e serão feitas por meio de veículos cedidos pela SES. No próximo semestre, os próximos bairros a receberem os mosquitos serão: Alves Pereira, Centro Oeste, Jacy, Jockey Club, Los Angeles, Parati, Pioneiros, Piratininga, Taquarussu e América, ainda na mesma região.
Método Wolbachia
A Wolbachia é uma bactéria intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti. Quando presente neste mosquito, ela impede que os vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças. Não há modificação genética nem no mosquito, nem na bactéria.
O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e gerar uma nova população destes mosquitos, todos com essa bactéria. Uma vez que os mosquitos com Wolbachia são liberados no ambiente, eles se reproduzem com mosquitos de campo e ajudam a criar uma nova geração de mosquitos com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam a Wolbachia aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.
Desenvolvido na Austrália pelo World Mosquito Program, o Método Wolbachia é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha no combate às doenças transmitidas por mosquitos. Atualmente operando em 12 países, em mais de 20 cidades, o método tem apresentado resultados promissores nas diferentes localidades. Há quatro anos não se tem registro de casos autóctones de dengue na Austrália. Na Indonésia, um estudo clínico randomizado (RCT), padrão ouro na epidemiologia, demonstrou 77% de redução nos casos de dengue.
No Brasil, o método é implementado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com governos locais. Tendo iniciado em partes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, os resultados preliminares apontam redução de 75% de casos de Chikungunya em áreas com o Wolbito. Com base nas diversas experiências bem-sucedidas, o WMP entrou em processo de expansão nacional no ano de 2019. Atualmente, o método do WMP está sendo implementado nas cidades de Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG), com financiamento do Ministério da Saúde e em parceria com os governos locais e diversos outros parceiros regionais. Em Belo Horizonte já teve início à soltura dos Wolbito em três regiões pilotos e será realizado um RCT no município.
0 Comentários
Os comentários estão fechados.