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Campo Grande, segunda-feira, 15 de dezembro de 2025.

O criador do apelido, “Mestre Gonça” (d) e a criatura,”Chaveirinho”, nos áureos tempos do futebol de MS(Arquivo pessoal Chaveirinho)
Nesta sexta-feira (12), o ex-jogador Nelson da Silva Barros, conhecido e chamado por todos carinhosamente por “Chaveirinho”, completou mais um ano de feliz existência.
Não nesse dia todo especial, mas mal sabia ele que, com esse apelido, o mesmo causaria uma ruptura entre a diretoria do Comercial e a Imprensa Esportiva de Campo Grande, isso na década de 90.
Na época do rádio e também no Jornal Diário da Serra, eu sempre o chamei de “Charles Chaplin” do futebol, devido aos seus dribles desconcertantes, aqueles para humilhar os seus marcadores, pois enquanto os mesmos não ficavam estatelados no campo, ele não se dava por satisfeito e somente depois dessa “alegre” constatação para os torcedores, o mesmo, dava sequência na jogada com a maior naturalidade.
Há quem diga que certa vez o então técnico Francisco Gonçalves, “Mestre Gonça”, o seu descobridor, chamou a atenção do mesmo quanto a demora para dar sequência na jogada e ele, teria respondido com a maior naturalidade:
“É que o lateral (esquerdo) demorou muito pra cair!” Se isso é verdade não sei, pois não ouvi! Mas do jeito que ele era, pode ter sido isso mesmo…
Pois bem e justamente ele, “Chaveirinho” de forma totalmente indireta, foi o causador de um dos maiores desentendimentos já registrado no futebol da Capital de MS.
O desentendimento envolveu um treinador e um narrador esportivo e eu entrei no “Túnel do Tempo”, resgatando essa história que foi de fato real e retrato agora como foi o episódio.
De forma triste, mas vale destacar que, tanto o treinador bem como o narrador esportivo, não estão mais entre nós, mas com todo o respeito por ambos, citarei de forma alegre os seus nomes nesse mergulho do tempo e com isso, revivendo os áureos tempos do futebol em MS.
Um deles, o técnico Ijuranei Pinter de Barcelos, que dirigiu o Comercial e foi conhecido no mundo do futebol por “Julinho” e o outro, também igualmente conhecido no mesmo segmento, só que integrando a crônica esportiva, Mário José Mendonça, conhecido e chamado por todos apenas por “Mário Mendonça”.
Nas categorias de base do Comercial, quando este ainda tinha o Centro de Treinamento na Vila Olímpica, na Rua Brilhante, onde hoje funciona um dos supermercados que integra uma grande rede, durante os treinamentos vespertinos, o jogador, ainda chamado pelo nome de batismo, Nelsinho, logo encantou o técnico Francisco Gonçalves, “Velho Gonça”, que ficou maravilhado com o futebol apresentado por aquele atleta com estatura de média para baixo, mas um gigante dentro de campo onde além da visão de jogo, tinha enorme mobilidade, tanto que em um pequeno espaço de campo, ele fazia de latifúndio e com isso causa “miséria” ao time adversário e azar do seu marcador, que sofria horrores.
Fora do campo, Nelsinho sempre teve uma postura também invejável, com muita honestidade, moral e sempre impondo respeito por onde quer que o mesmo circule.
Encantado com o futebol arte demonstrado por aquele “pequeno” jogador, Gonçalves ficou sabendo que ele se chamava “Nelsinho”, mas devido à baixa estatura, de cara já o chamou de “Chaveirinho, claro que, não de forma pejorativa, mas carinhosa devido ao seu tamanho e aliado ao grande futebol arte e corajoso fizeram com que o mesmo ganhasse fama e ultrapassasse as fronteiras do Estado de MS.
A partir de então, o jogador passou a ser chamado e conhecido por todos através do cognome “Chaveirinho” e o mesmo atendia como sempre de forma gentil e educadamente, sem se estressar.
Como sempre, não me recordo bem o ano que aconteceu o “bafafá”, afinal eu com 72 anos de idade, mesmo sendo muito bem vividos, não tenho mais plena memória para recordar perfeitamente as datas, apenas os fatos acontecidos, mas acredito que tenha sido em 1.994, portanto, há 31 anos, isso ainda quando o EC Comercial tinha o CT na Vila Olímpica e era um dos grandes no futebol do Estado de MS.
Novo técnico
Naquela época, o diretor de futebol do clube, era o Ruivaldo, pessoa também da melhor qualidade que ao lado da diretoria administrativa, decidiram mudar um pouco de “ares” a respeito da contratação de treinadores, pois sempre os olhares se voltavam para São Paulo e desta feita, eles olharam para o futebol paranaense, onde descobriram o técnico Ijuranei Pinter de Barcelos, conhecido no futebol por “Julinho”.

Técnico Julinho (In memoriam), que comandou o time com Comercial em 1.994 (Foto:Google)
O contato foi feito e em seguida o acerto e o novo treinador desembarcou então na Vila Olímpica, sob olhares curiosos da imprensa e também dos torcedores que em dias de treinos, lotavam o local.
Apelido
Tão logo foi apresentado ao elenco e depois à imprensa esportiva da Capital de MS, que naquela época não tinha os sites e a mesma era formada pelas equipes de Rádios, Jornais impressos e a TV Morena. Na verdade era um “SHOW DE INFORMAÇÕES!”, com os profissionais fazendo questão de comparecer diariamente aos treinamentos para eles também, não perderem um “lance” dos fatos acontecidos na atividade e levasse as principais noticiais a todos.
Logo de cara o técnico Ijuranei, mas que era conhecido po “Julinho”, invocou com o apelido do jogador “Chaveirinho”, que foi dado pelo descobridor do mesmo, “Mestre Gonça”.
Gota d’água!
Tão logo ficou sabendo do apelido, de imediato ele determinou que a partir daquele momento, todos os jogadores integrantes do elenco colorado estavam proibidos de serem chamados pelos mesmos e para tanto, os nomes deveriam ser usados normalmente.
Justificativa
Como justificativa para tal proibição, Julinho argumentou que um jogador com aquelas qualidades técnicas, não poderia de forma alguma ser chamado por aquele apelido, que poderia ser usado de forma pejorativa pelos adversários.
“Onde já se viu, um jogador com essas qualidades técnicas, ser chamado por Chaveirinho? Isso não existe e a partir de agora, ele será Nelsinho”, disse de forma taxativa o técnico Julinho, cujo nome era Ijuranei.
Diante disso, o mesmo passou então a ser chamado pelo nome original: Nelsinho.
Rádio Cultura
A decisão do técnico Julinho, de proibir chamar o jogador pelo apelido, foi tomada antes do treino realizado no período da tarde e na ocasião, a Rádio Educação Rural, tinha o programa esportivo das 17h às 1745, sob o comando do locutor Gilberto Pereira Guedes, não deu muita atenção e nem importância a esse fato.
No entanto, quando chegou no período noturno, a Rádio Cultura, com programa esportivo a partir das 19h e dependendo do assunto e da sua “efervescência”, acabava por volta das 21h, decidiu apagar o fogo com gasolina e interrogar pelo ar, o técnico “Julinho”, o porquê dessa proibição, qual seria o motivo para a mesma.
Na ocasião, o narrador da equipe, Mário Mendonça, interpelou pelo ar o treinador, dizendo em forma interrogativa, quem era ele, para chegar e mudar o que já havia sido feito no futebol da Capital de MS.

Mário José Mendonça (In Memoriam), um dos brilhantes locutores esportivos em Mato Grosso do Sul (Foto:Google)
“Quem é Julinho, para chegar aqui e mudar o nome ou apelido de um jogador que caiu nas graças dos torcedores e é conhecido pelo apelido de Chaveirinho? Durante os jogos do Comercial, pra mim, ele será o Chaveirinho de sempre! Enfatizou o narrador.
Pronto, estava armada um dos maiores “quiproquó” já registrado no futebol da Capital de MS.
A partir de então, o “bicho pegou”, pois todo mundo ouvia as rádios, lia os jornais e viam as reportagens pela televisão, e entre eles, os treinadores, jogadores e torcedores ouvintes sempre acompanhando atentamente os fatos do futebol local, tanto que no dia seguinte, após o programa da Rádio Cultura, esse foi o comentário geral pelas ruas da cidade, e nos locais onde os times treinavam, principalmente na Vila Olímpica, também no Elias Gadia, onde o Taveirópolis treinava, na Poliesportiva, local de preparação do Operário.
Proibido
Diante dessas posições, de o técnico proibir o uso dos “apelidos” e do narrador afirmando que não aceitaria essa imposição, aconteceu o rompimento entre as partes envolvidas: de um lado, o Comercial que proibiu os jogadores de concederem entrevistas à imprensa de forma geral e do outro, a imprensa esportiva que a partir de então, passou a enfocar bem menos as notícias do time colorado, pois os repórteres setoristas, aqueles que faziam as coberturas diárias, foram proibidos até mesmo de assistirem aos treinos do time no campo da Vila Olímpica, pois o grande portão de madeira, era “fechado”, minutos antes do início da movimentação.
Abre a Porteira
Com disso, durante o programa esportivo, a Rádio Cultura, que em sinal de protesto, uma vez que não tinha entrevistas com os jogadores e nenhum dos diretores falavam, ou seja, quase nada de informações sobre o elenco comercialino, para ser abordados durante o programa, os participantes da equipe esportiva passaram a tocar apenas a parte de um dos sucessos do cantor Jair Rodrigues, “Abre a Porteira”.
A parte editada, por Orlando, técnico de Som da emissora, era essa: “Abre a porteira, me deixa entrar, aqui eu não tenho o que tenho lá…”, nesse caso eram as informações.
A porteira citada na música era referente ao portão de madeira, que na hora do treino era fechado apenas para a imprensa.
A briga, no bom sentido, mas na verdade o desentendimento permaneceu por um bom tempo, até a queda do técnico Julinho e depois tudo voltou à normalidade com Nelsinho voltando a ser chamado por Chaveirinho e a imprensa tendo acesso aos treinos realizados na Vila Olímpica.
De volta ao futebol paranaense, o técnico Julinho fez indicação do jogador que para ele era e sempre foi Nelsinho em quanto que aqui o mesmo era “Chaveirinho”, que foi contratado pelo time de Ponta Grossa, onde se tornou uma das grandes sensações no futebol daquele Estado e depois, defendeu ainda os times Londrina, Nacional, Rolândia, Prudentópolis, entre outros e em todos, sempre sendo o protagonista, devido às suas destacadas atuações e depois retornou ao Estado de MS, onde defendeu o Operário.
Hoje, tanto Ijuranei Pinter de Barcelos (Julinho), bem como Mário José Mendonça, que não estão mais entre nós, pois estão em outro plano espiritual.
Mário Mendonça, faleceu no dia 2 de junho de 2.004, devido a um agudo derrame cerebral.
Ijuranei Pinter de Barcelos (Julinho), faleceu no dia 28 de setembro de 2.012, em Bandeirantes.
Também hoje não existem mais os CTs da Vila Olímpica, da Poliesportiva e o Estádio Elias Gadia, palcos dos surgimentos de jogadores de qualidade, alguns craques, no futebol da Capital de MS.
Mas o “pivô” do desentendimento, da ruptura entre o
Comercial e a Imprensa Esportiva, o ex-jogador Nelson da Silva Barros, “Chaveirinho”, segue firme e forte, exibindo a sua magia no futebol amador, o criador do pomposo apelido, Francisco Gonçalves, “Mestre Gonça”, e eu jornalista Gilson Giordano, para entrar no “Túnel do Tempo” e trazer histórias e “causos” que caíram no esquecimento ou que muitos desconhecem, tal como esse, com as graças de Deus, continuamos no plano terrestre, firmes, fortes e com muita saúde e lembrando dos áureos tempos, época de glória, vividos no futebol de MS.
Em tempo: Não uso, mesmo porque não sei como fazê-lo, o tal do “IA”, aliás, o “IA”, usado por mim é o tradicional: “IA memória está ótima”, pois ainda lembro de muitos fatos!
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