Tudo sobre a região do Anhanduizinho
Campo Grande, segunda-feira, 01 de dezembro de 2025.

Após “pendurar as chuteiras”,mas com a mesma irreverência, Coquinho se tornou comentarista esportivo (Foto: Capital News)
A partir de agora, o Operário FC se prepara para entrar na modernidade do futebol e para tanto, o mesmo se movimenta para se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol, conhecida pela famosa sigla SAF, que é um modelo de gestão que transforma um clube de futebol em uma empresa, com o objetivo de modernizar a administração, atrair investimentos e melhorar a eficiência financeira.
Apesar desses novos passos em busca de um futuro melhor, nada apagará a história do glorioso time de futebol, paixão de milhares de torcedores espalhados pelo Estado e quiçá pelo país.
Túnel do tempo
Relembrando uma das lindas histórias, claro que algumas delas triste, que foi vivida pelo time do OFC e para tanto, vamos entrar no famoso túnel do tempo e contar uma delas que, com certeza milhares de novos torcedores não sabem e nem fazem ideia de como foi o clube no passado.
Jogo
A data, tal como o dia e o mês, eu não me recordo perfeitamente, mas o ano, acredito que tenha sido em 1.984, quando o EC Taveirópolis, conseguiu impor a maiúscula vitória contra o então “todo poderoso” Operário, que na época tinha no comando técnico, o saudoso e competetissimo treinador Carlos Castilho.
Claro que muitos dos personagens que participaram daquele “jogaço” e que citarei agora nesse mergulho no chamado “túnel do tempo”, hoje já não existem mais, no entanto nos deixaram ótimas recordações e muitas saudades.
Operário
Na ocasião, o Operário, na época dirigido pelo técnico Carlos Castilho, treinava no Centro Técnico (CT) Poliesportiva, localizada na Vila Popular, na saída para o município de Terenos.
O local, era uma área muito grande onde tinha dois campos de treinamentos, vestiário entre outras pequenas benfeitorias, mas que ia ao encontro das aspirações do clube e onde o time, além de treinar praticamente todos os dias, recebia novos jogadores vindo dos chamados grandes centro do futebol brasileiro.
Hoje, a Poliesportiva, não sei se ainda existe com o mesmo nome, mas independente disso, a mesma não pertence mais ao clube que perdeu o espaço em uma ação trabalhista, assim tal como a sede na Avenida Bandeirantes, a Casa do Atleta Carlos Castilho, localizada anexo à sede administrativa do clube.
Reforços
Os reforços ao elenco chegavam “aos montes”, pois naquela década, os clubes do país, revelam grandes jogadores semanalmente, através dos times das categorias juvenis e júnior, que hoje também mudaram de nomes e com isso, os chamados “veteranos”, na faixa etária dos 30 anos, ficavam sem espaço nas equipes e como o mercado europeu ainda era fechado, milhares deles buscaram refúgios, espaços nos clubes espalhados pelo interior do país.
Entre eles, o Operário, conhecido em todo o país, pela memorável campanha realizada no longínquo ano de 1.977.
Reforços

Goleiro Borrachinha, após ter defendido o Botafogo, onde “parou” Zico, com defesas impossíveis, jogou no Operário (Foto: Google)
Naquele ano, 1.984, o elenco alvinegro já havia recebido o reforço do goleiro Borrachinha, ex-Botafogo do Rio de Janeiro, onde ganhou muita projeção, após quase que literalmente “fechar” o gol na partida contra o Flamengo, proporcionando verdadeiro pesadelo ao jogador Zico.
Na semana da partida contra o Taveirópolis, o técnico Carlos Castilho ganhou também o reforço do zagueiro Vicente, ex-Santos, sim da Vila Belmiro e que havia jogado ao lado de Ramos Delgado, mas sem espaço, acabou deixando a Vila e integrando ao Operário.
Com esses dois novos e super reforços, os treinamentos na poliesportiva eram assistidos por milhares de torcedores. Isso mesmo, milhares!
Adversário
Conforme a tabela do campeonato, o jogo do Operário, seria contra o Taveirópolis, cujo presidente, na época, o também saudoso Anivan Pereira da Rosa, que “dava a vida pelo time”.
Sem um espaço apropriado para os treinamentos, o elenco do Taveirinha, como era carinhosamente chamado por todos, treinava no Estádio Elias Gadia, estádio municipal que era localizado no bairro do mesmo nome, mas acabou demolido e se tornou um complexo esportivo, com um campo de futebol suíço, onde não se pode jogar, além de outras áreas para a prática de alguma modalidade esportiva.
Na época, o time, também se não me falha a memória, tinha no comando técnico o conhecido Perrita, que hoje não sei por onde o mesmo anda.
Pelas conquistas alcançadas, claro que o Operário era “infinitamente” superior ao adversário, mas essa grandeza não ficou evidenciada naquele jogo disputado em uma tarde de domingo, no antigo e também saudoso Estádio Morenão” que em dias de jogos comuns tal como o citado, recebia um público em torno de 8 mil pessoas, no mínimo.
Imprensa
As contratações anunciadas pelo Operário e amplamente divulgadas pela imprensa esportiva da Capital de MS, claro que mexeram com os torcedores. Na época, a imprensa esportiva era formada pelos Jornais Impressos Diário da Serra, Correio do Estado e Jornal da Manhã; as emissoras de rádios: Difusora, Educação Rural e Cultura e a TV Morena, com o também saudoso Fábio Rodrigues, que “punha fogo”, atiçava ao máximo os jogos nas suas inesquecíveis reportagens.
Coquinho
O Taveirópolis, contava em seu elenco, com o irreverente jogador Coquinho (In memoriam), uma “matador” nato e que sabia cativar, despertar a atenção dos torcedores.
Coquinho, sempre irreverente, em dias de jogos, ele usava bandana, espécie de um lenço, geralmente triangular ou quadrado, que o mesmo usava enrolado na cabeça.
No transcorrer da semana que antecedeu o jogo, sabiamente a imprensa esportiva da Capital de MS, deu corda ao referido jogador, que criava os seus próprios chavões e entre eles, dois de destaques:
“Com Coquinho em campo, não tem placar em branco”, “Se a torcida está contente, o gol é da gente”.
Chuteiras Brancas
Além de usa bandana em alguns jogos, na partida contra o Operário, Coquinho, que defendeu a Ferroviária de Araraquara, o São Paulo, Comercial, entre outros grandes times do futebol brasileiro, atuou usando um par de chuteiras brancas.
Nas entrevistas, além do uso dos chavões, ele falava que marcaria os gols na vitória do “Taveirinha”, como o time era carinhosamente chamado por todos, no jogo contra o Operário.
Claro que isso acirrava ainda mais o interesse, a vontade dos torcedores que torciam para o domingo logo chegasse.
As rádios fazia coberturas diárias nos três clubes da Capital de MS: Operário, Comercial e Taveirópolis, com entrevistas além de levar os convidados para os debates.
Os jornais, mesma coisa, exibiam as fotos dos artistas da bola, com ótimas reportagens que despertavam igualmente as atenções dos leitores.
Por sua vez, Fábio Rodrigues, da TV Morena e do Jornal da Manhã, não deixava por menos e “apagava o fogo com gasolina’
Torcida

Após ter conquistado título de campeão brasileiro, pelo Grêmio, zagueiro Vicente, também ex-Santos, defendeu o Galo, onde ficou por pouco tempo (Foto: Google)
Esse jogo do Operário contra o Taveirópolis, era na verdade uma simples partida, mas a mesma ganhou contornos e status de “jogaço” em função da estreia do zagueiro Vicente e do segundo jogo que seria realizado pelo goleiro Borrachinha.
Com isso, o estádio Morenão (In Memoriam), pois o mesmo não abre mais os seus portões, além de estar entregue ao mais completo abandono, recebia milhares de torcedores, que chegavam cedo ao local, sendo que as partidas naquela época, iniciavam às 17h e mesmo assim formavam filas para as compras dos ingressos tanto nas arquibancadas cobertas, como nas descobertas e nas cadeiras cativas.
Naquela época, os ônibus do transporte coletivo, faltando meia hora para o fim do jogo, estacionavam à frente do estádio de onde saiam super lotados, seguindo para a antiga Estação Rodoviária, de onde então, os torcedores tomavam outro ônibus, desta feita, seguindo para os bairros onde moravam.
Delurma
Entre os milhares torcedores do Operário, tinha a Torcida Organizada da Dona Delurma, do Lar do Trabalhador.
A torcida organizada, era composta por aproximadamente 80 pessoas, na sua maioria mulheres que usavam saia branca plissada e a camisa do clube, a tradicional branca com frisos verticais negros. E as moças dançavam, cantava e rodavam as saias durante o jogo todo!
Era outro colorido!
A torcida da Dona Delurma, ocupava uma parte da arquibancada descoberta, mais próxima ao antigo placar eletrônico.
Naqueles memoráveis tempos do futebol arte, os times adentravam ao campo, saindo cada qual do seu túnel, correndo e no campo, os jogadores saudavam os torcedores.
Outra festa!
Naquele momento, a torcida organizada da Dona Delurma, fazia uma verdadeira chuva de papéis picados, para saudar, enaltecer a entrada triunfal do time do Galo em campo, tendo sempre à frente, o Capitão Garcia.
Jogo
Naquela tarde de domingo, o Taveirópolis que tinha também um ótimo time, estava “endiabrado”.
Sabiamente, Perrita armou o time com o tal quadrado no meio campo, no melhor esquema do 4 – 4 -2, se fechando quando não tinha a bola e se abrindo em velocíssimos contra-ataques e com isso, surpreendeu o Galo de Carlos Castilho, do goleiro Borrachinha e do zagueiro Vicente, sendo que este não ficou até o fim da temporada.
Por sua vez, o Taveira tinha, se não me engano o Paulo César, (PC), de volante, Tucho era o zagueiro, eu acho que Mauro era o goleiro, dois excelentes meio campistas: Ninho e Pelezinho, sendo que este último chegou a jogar no Operário, Garrinchinha na ponta direita, posição essa extinta no futebol moderno, Coquinho de centroavante e o ponteiro esquerdo eu acho que era o Ferrinho.
Rapaz! Rapaz! Que jogo! Que futebol de altíssima qualidade técnica e disciplinar que os dois times, mais o Taveirópolis apresentou naquela partida.
Infernal
O quarteto ofensivo do Taveirinha, composto pelos jogadores Ninho, Pelezinho, Garrinchinha e Coquinho, pois Ferrinho ficava mais retraído, aprontou uma correria infernal, mas de forma coesa, concatenada e coordenada pra cima da defensiva do Galo, tanto que o novato no time, o zagueiro Vicente, acabou sendo substituído por Carlos Castilho, durante o intervalo do jogo, mesmo porque, ele não chegava tocar na bola, devido à verdadeira avalanche, uma blitz, aplicada a cada ataque do time do Taveirópolis.
Placar final
O placar final apontou a vitória por 3 x 1 para o time da Vila Famosa, como era chamado o time do “seu” Anivan Pereira da Rosa sendo que naquela partida, Coquinho cumpriu a promessa feita ao longo da semana que antecedeu a mesma, marcando dois gols pela sua equipe.
Gesto
Naquela época do futebol arte, um dos gestos mais comuns entre os artilheiros, os matadores mesmo era o de beijar as próprias chuteiras após a marcação de um gol.
Claro que o irreverente a falastrão Coquinho, ao marcar dois dos três gols na vitória da sua equipe, fez o referido gesto e no centro do gramado, o mesmo se sentou e beijou o seu pé direito. Fato esse que foi efusivamente ovacionado pelos torcedores até mesmo do Operário, devido à plástica, à beleza dos lances e da criatividade do jogador que de fato, era um artilheiro nato mesmo.
O jogo acabou com o placar de 3 x 1 para o Taveirópolis. Aliás, não apenas esse jogo que acabou, mas acabaram também, a poliesportiva, os estádios Elias Gadia que ficava no bairro Taveirópolis, “seo” Anivan Pereira da Rosa, Coquinho, Carlos Castilho, a torcida da dona Delurma, entre outros e entre eles, o Estádio Pedro Pedrossian, “Morenão” que, inegavelmente o gramado foi o palco e a bola hoje muito castigada, foi a poesia de memoráveis jogos de futebol e entre eles, esse entre Operário x Taveirópolis, que eu trago no arquivo da minha memória onde guardo com muita saudade os bons tempos do futebol disputado na Capital de MS.
0 Comentários