redacao@gritoregional.com.br     (67) 9 8175-8904

Tudo sobre a região do Anhanduizinho

Tudo sobre a região do Anhanduizinho

           

Campo Grande, sexta-feira, 24 de novembro de 2023.

Histórias, Risos e lágrimas

Em Rio Negrinho, o dia em que o pai zangado, tentou com facão, furar a bola do agitado menino “Coalhada”!

Por Gilson Giordano em 21/06/2021 às 11:03

Devidamente “paramentado”, ‘Coalhada’ reúne alguns amigos a quem conta memoráveis história sobre a sua vida (Foto: Arquivo)

Com a paralisação do futebol amador na Capital de MS devido à pandemia, organizadores de vários campeonatos, claro, sem poder ver a alegria dos torcedores transmitidas pelos jogadores durante as partidas, alguns deles optaram em reunir um seleto grupo de amigos, mas todos devidamente dentro das normas da biossegurança  e com isso usando máscaras e o álcool em gel  “a vontade”, para contar alguns “causos” vividos por eles.

Entre esses contadores de histórias, estava Antônio Jerônimo da Silva, morador no bairro Santa Felicidade, onde pelo nome ninguém o conhece, mas se falar “Coalhada”, todos sabem quem é!

Susto e risos!

A história contada por “Coalhada”, na roda dos amigos é um tanto paradoxal. É uma mistura de muito susto e depois, na mesma proporção, muitos risos.

Integra o lindo enredo que faz parte da história de vida do protagonista Antônio Jerônimo da Silva, “Coalhada” uma bola de futebol e um rio, conhecido por Rio Negrinho

A família do menino Jerônimo morava no “patrimônio” chamado Rio Negrinho, originado pelo nome do caudaloso rio que banhava toda a região e desde cedo, o guri Jerônimo que foi criado na roça, onde com 12 para 13 anos, já enfrentava o “cabo da enxada”, trabalhando na preparação das invernadas, local para o pasto dos animais.

Como se sabe Rio Verde de Mato Grosso, pelo fato de ser localizado na região norte é uma das cidades mais quentes do Estado e em um belo dia, ao se dirigir para casa, no horário do almoço, no meio do pessoal ouvindo atentamente as conversas dos mais velhos, o intrépido guri Jerônimo, bem suado, não se conteve ao passar pelo caudaloso Rio Negrinho, que dava o mesmo nome ao “patrimônio” localizado na cidade e de imediato, mal apenas tirou a camisa e a botina e com um salto acrobático, pulou nas águas do caudaloso e piscoso rio, onde o mesmo se considerava um “peixe”.

Susto

No ato do banho, aconteceu o paradoxo da história narrada pelo agora “Coalhada” e nela o susto! Pois ao dar as primeiras braçadas, para mostrara a sua habilidade como exímio nadador, o mesmo sentiu uma forte câimbra e graças aos demais, ele foi salvo. Mas conforme o relato do mesmo foi retirado do leio do rio, quase morto.

De imediato foi levado para a cidade de Rio Verde de Mato Grosso, onde o médico constatou “deslocamento dos pulmões”, e isso era de extrema gravidade para a época.

Devido à gravidade da contusão, o médico recomendou extrema dieta, sem poder fazer nenhuma atividade sob o risco de agravamento da doença e com isso, sem poder trabalhar e menino Jerônimo, teve que ficar de molho em casa.

Risos

Passado o período do susto, mas ainda em fase de recuperação, em casa, pois devido à gravidade da contusão, não podia nem mesmo ajudar o pai Sebastião Jerônimo da Silva, um belo dia, com as economias que tinha, o menino Jerônimo teve a “infeliz” idéia de comprar uma bola, objeto esse que desde pequeno já era a “menina dos olhos” do irrequieto guri.

Na época, as bolas eram vendidas sob numeração e conforme a idade dos “jogadores”. Tinham as bolas números 1, 2, 3, 4 e a oficial era a número cinco, sonho de todos, pois quem tinha uma bola número 5, a oficial, estava pronto para jogar entre os adultos.

Invariavelmente as bolas da época tinham os gomos pretos e brancos e durante o giro da mesma, dava um “visual” diferente ao objeto que era o sonho da maioria dos meninos que, invariavelmente, andavam sem a “tampa do dedão” em um dos pés, mas estava tudo bem, pois para cicatrizar logo, usava e muito o remédio caseiro: bastava passar sal grosso no local e pronto, vamos pro jogo!

O pai, Sebastião Jerônimo, seguindo as orientações médicas, que na época eram de fatos autoridades e não igual hoje na CPI da Covid não permitia de forma alguma que o irrequieto menino fosse trabalhar na invernada, para a formação do pasto.

Com a idade de 12 anos e com muita energia para ser “queimada”, aquele período de dieta estava na verdade causando um mal ao agitado menino que teve uma “brilhante” idéia.

Com os “trocados” que ele tinha guardado, o mesmo decidiu comprar uma bola, a de número 3, para a sua faixa etária.

Feliz da vida e já em fraca recuperação ele brincava com o objeto dos seus sonhos, a bola e como se sabe, atrás de uma bola, sempre tem uma criança e Jerônimo, não parava: chutava e ele mesmo corria atrás pra pegar a bola, chutava pra lá e pra cá, afinal ele tinha que queimar a energia acumulada há dias!

Em um belo dia, o pai Sebastião Jerônimo, que gostava de vez em quando, “tomar uma e outras”, chegou a casa com “algumas na cabeça” e flagrou o filho Jerônimo,   fazendo “esforço físico”, ao jogar bola e isso estava proibido pelo médico!

De imediato, pediu a bola e foi claro prontamente atendido e em seguida o pai o mandou entrar na casa.

Ele fez com dor no coração e a dor aumentou ainda mais, pois pela fresta da porta, ele viu o pai apanhar o facão para furar, cortar, enfim acabar com a bola.

Jerônimo até ensaiou alguns soluções que em seguida foram transformados em risos!

Sim em gostosas gargalhadas, pois a cada tentativa que o pai fazia para furar, a bola quicava e escapava dele, a cada tentativa de cortar a bola, acontecia a mesma coisa e isso tudo causou risos ao menino Jerônimo, que assistia a tudo atrás da porta.

Zangado, o pai ajeitou a bola e depois de muitas tentativas, apenas com um certeiro golpe furou a bola do menino que essa altura estava menos triste, pois a bola, que hoje é sua amiga inseparável, deu um enorme cansaço em seu pai, a quem ele tem o mais profundo respeito.

Tristeza

Após muitos anos, o agora “Qualhada” voltou ao município de Rio Verde de Mato Grosso, mais precisamente em 2019 e na cidade, claro que ele foi rever o patrimônio Rio Negrinho, onde ele passou a maior parte da infância e para a sua tristeza, nada mais daquilo que ele e famílias haviam deixados quando  mudaram, existe mais, apenas as boas e saudáveis recordações.

Hoje, para eternizar o carinho e amor pela bola, “Qualhada” se tornou um dos maiores e melhores organizadores de campeonatos de futebol amador da Capital. Agora quer ouvir prontamente, um “não”? Convide-o para ir á uma beira de rio, local esse que depois do susto, lhe causou profundo medo e nunca mais foi ou passou perto.

0 Comentários

Os comentários estão fechados.

Exibir botões
Esconder botões